Chemsex: O perigo da combinação entre drogas e sexo - Riscos, dados e redução de danos

O "chemsex", termo derivado da expressão em inglês chemical sex ("sexo químico"), é uma prática que combina o uso de substâncias psicoativas com atividade sexual. Embora não seja um fenômeno novo, tem ganhado destaque entre especialistas devido ao seu crescimento e aos riscos associados. A facilidade de acesso a drogas e aplicativos de encontros, somada à falta de informação sobre redução de danos, torna o tema urgente para a saúde pública.
O que é o chemsex?
O chemsex envolve o consumo de drogas antes ou durante relações sexuais, com o objetivo de intensificar prazer, desinibição e prolongar a experiência. As substâncias mais usadas incluem:
- Álcool e cannabis: Comuns por seus efeitos relaxantes.
- Drogas sintéticas: Como ecstasy, metanfetamina ("cristal"), GHB (conhecido como "boa noite Cinderela") e ketamina ("key").
- Nitrito de alquila (poppers): Usado para relaxar a musculatura e aumentar a excitação.
Prevalência e dados recentes:
- Estudos indicam que 12,66% da população global já experimentou chemsex, com variações entre países e grupos (fonte: meta-análise publicada na Healthcare, abril de 2024).
- No Brasil, 19,42% dos homens homoafetivos relataram a prática (estudo da Public Health Nursing, março de 2024).
- O Ministério da Saúde já alertava sobre o tema em 2007, vinculando-o a maior risco de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) devido ao sexo sem preservativo.
Motivações para a prática:
Efeitos das drogas:
- Cannabis: Dilata a percepção do tempo, tornando o sexo mais intenso.
- Poppers: Facilitam a penetração por relaxar músculos.
- Metanfetamina: Aumenta energia e libido, mas com alto risco de dependência.
Fatores sociais:
- Pressão por desempenho sexual e padrões de beleza, especialmente em comunidades LGBT+.
- Busca de superação de traumas ou exclusão social através de experiências extremas.
Riscos e consequências:
Saúde física:
- Overdose (especialmente com GHB e metanfetamina).
- Danos cardíacos, hepáticos e risco de AVC.
- Queimaduras e lesões por uso inadequado.
Saúde mental:
- Depressão, ansiedade e paranoia pós-uso ("ressaca química").
- Síndrome da desregulação da homeostase hedônica: O cérebro passa a depender das drogas para sentir prazer.
Comportamentais:
- Maior exposição a ISTs (como HIV, mpox e herpes) devido ao sexo desprotegido.
- Dificuldade em reconhecer limites, levando à dependência.
Redução de danos: Um caminho possível
Como a abstinência nem sempre é viável, estratégias de redução de danos são essenciais:
- Informação segura: Conhecer dosagens, combinações perigosas (ex.: álcool + ketamina) e efeitos colaterais.
- Prevenção combinada: Uso de PrEP, preservativos e testagens regulares para ISTs.
- Acesso a serviços de saúde: CAPs (Centros de Atenção Psicossocial) e CTAs (Centros de Testagem e Aconselhamento) oferecem suporte profissional.
O chemsex reflete uma complexa intersecção entre cultura, tecnologia e saúde pública. Seu crescimento exige abordagens sem estigmatização, focadas em educação e redução de danos. Profissionais de saúde destacam a importância de diálogo aberto e políticas públicas que equilibrem prevenção e acolhimento, garantindo segurança e qualidade de vida para os envolvidos.