Multilateralismo em colapso: O que o Brasil e outras potências médias podem fazer contra a hegemonia dos EUA?

O cenário global está passando por uma mudança significativa. A ordem internacional liberal tradicional, construída sobre a cooperação e normas compartilhadas, enfrenta sérios desafios. Este resumo, baseado em um artigo dos professores Paulo Esteves e Carlos Frederico Coelho (PUC-Rio), explora como o Brasil e outras potências médias estão lutando para manter sua autonomia e fortalecer o multilateralismo – o sistema de cooperação entre múltiplos países. Essa luta é particularmente urgente dada a política externa agressiva adotada pelos Estados Unidos sob a administração Trump.
A erosão da cooperação global
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A ordem pós-Segunda Guerra Mundial, que promovia a cooperação e regras universais, está sendo desmantelada. Os Estados Unidos agora priorizam acordos bilaterais assimétricos (acordos entre dois países onde um detém significativamente mais poder) e medidas coercitivas, como tarifas comerciais punitivas.
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Por exemplo, o governo Trump vinculou explicitamente tarifas sobre produtos brasileiros a decisões judiciais internas no Brasil. Essa medida visava pressionar o Brasil a alinhar suas políticas com os interesses norte-americanos.
Objetivos dos EUA na Nova Ordem Global
A estratégia dos EUA parece ter vários objetivos principais:
- Substituir normas globais por acordos bilaterais: O objetivo é criar relações desequilibradas, onde os EUA ditam termos vantajosos.
- Influenciar regimes políticos: Há indícios de que os EUA buscam promover o autoritarismo em países como o Brasil, minando democracias que resistam ao alinhamento automático com as políticas dos EUA.
- Restringir o não-alinhamento: Potências médias são pressionadas a abandonar parcerias diversificadas, como o grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), e reduzir seus laços com a China.
O desafio para as potências médias
Países como Brasil, África do Sul e Indonésia estão enfrentando tarifas e ameaças semelhantes. No entanto, individualmente, eles não têm poder suficiente para resistir a essas pressões de forma eficaz.
Para reconstruir o multilateralismo, a ação coletiva é crucial. Esses países precisam coordenar seus esforços para:
- Criar mecanismos de segurança econômica coletiva.
- Reformar instituições internacionais como a Organização Mundial do Comércio (OMC).
O Brasil já tem diversificado suas parcerias, engajando-se com grupos como o BRICS, assinando acordos como o Mercosul-UE, e buscando a adesão à OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). No entanto, esses esforços individuais não são suficientes sem coalizões mais amplas.
Por que reconstruir o multilateralismo é urgente?
Apenas declarar apoio ao multilateralismo não é suficiente. Embora líderes de países como Brasil, África do Sul e Espanha tenham escrito artigos defendendo-o, ações concretas são essenciais.
No entanto, existem obstáculos significativos:
- Assimetria de poder: A grande diferença de poder entre os EUA e as potências médias.
- Concorrência entre potências médias: Uma falta de unidade completa entre esses países.
- Falta de apoio dos EUA: Os EUA estão trabalhando ativamente contra o multilateralismo.
Esses fatores tornam a tarefa de reconstruir uma ordem global verdadeiramente cooperativa "hercúlea", ou extremamente difícil.
O artigo destaca um momento crítico para a política externa brasileira e para a governança global. Enquanto os EUA promovem uma ordem baseada na coerção, o Brasil e outras potências médias devem fortalecer alianças para proteger sua autonomia e revitalizar o multilateralismo. Apesar dos desafios históricos e estruturais, é vital criar espaços políticos equitativos e agendas compartilhadas (como reformas comerciais) para evitar a fragmentação da governança global. A alternativa – um mundo de relações bilaterais desiguais – apenas aprofundaria as desigualdades e a instabilidade.