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segunda-feira, 29 de setembro de 2025 às 10:11 GMT+0

O campo minado diplomático: Os riscos de um encontro presencial Lula-Trump

A possibilidade de uma reunião formal entre o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente americano Donald Trump, cogitada após um breve cumprimento na ONU, está no centro de um intenso debate diplomático. Embora possa ser uma oportunidade, especialistas alertam: um encontro, especialmente na Casa Branca, configura uma armadilha de alto risco para o Brasil.

O "show de Trump": Imprevisibilidade e espetáculo

Donald Trump transformou o Salão Oval em um palco. Sua experiência como apresentador de reality show dita o tom das reuniões diplomáticas, apelidadas por seus próprios funcionários de "O Show de Trump".

  • Teatro para as câmeras: Reuniões são frequentemente conduzidas diante de câmeras, onde Trump desvia dos temas principais, faz críticas inesperadas e lança acusações ao vivo contra o interlocutor.
  • A regra da imprevisibilidade: Temas discutidos a portas fechadas podem ser tornados públicos sem aviso. A volatilidade de Trump é uma ferramenta estratégica para "criar drama" e afirmar sua dominância sobre líderes estrangeiros, que não raro são confrontados ou publicamente humilhados.

Precedentes de alerta: Lições da Ucrânia e África do Sul

Dois episódios recentes mostram o perigo de sentar-se na frente de Trump, especialmente sob pressão política.

1. O confronto com a Ucrânia: Em fevereiro, o Presidente Volodymyr Zelensky foi acuado, acusado de ingratidão e ameaçado de corte de ajuda americana. A reunião pública degenerou em um bate-boca transmitido globalmente.

2. O ataque à África do Sul: Em maio, o Presidente Cyril Ramaphosa foi pego de surpresa. Trump utilizou um vídeo com alegações infundadas de "genocídio" contra a população branca, lançando acusações graves sobre confisco de terras e uma política externa supostamente "antiamericana."

O risco brasileiro: Um terreno fértil para tensão

Para o Brasil, os riscos são potencializados por um histórico de críticas mútuas e pressões políticas.

  • Críticas cruzadas: Trump tem sido "mais agressivo com o Brasil do que com a maioria dos outros países" devido ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. Lula, por sua vez, tem sido um dos líderes mais ativos em rebater o americano, em defesa da soberania nacional.
  • A influência Bolsonaro em Washington: Especialistas traçam um paralelo perigoso, assim como Elon Musk influenciou a narrativa contra a África do Sul, o deputado Eduardo Bolsonaro atua como articulador de pressão nos EUA, sendo pano de fundo de sanções e tarifas já impostas ao Brasil.
  • Agenda de sanções hostil: O Departamento de Estado americano já demonstrou um ambiente hostil, com uma agenda para sancionar entidades e indivíduos brasileiros, como no recente caso envolvendo familiares do Ministro Alexandre de Moraes.

Por que o encontro é crucial para a soberania nacional

O resultado desta reunião pode ter consequências de longo alcance, definindo a imagem do Brasil no cenário global em diversos aspectos:

  • Soberania e dignidade: Um fracasso pode representar uma afronta pública à dignidade do Brasil, forçando Lula a uma posição defensiva diante de acusações potencialmente infundadas.
  • Relações bilaterais: O encontro definirá o tom da parceria Brasil-EUA para os próximos anos, impactando cooperações estratégicas e negociações comerciais essenciais.
  • Imagem internacional: A performance de Lula em um palco de alto risco afetará sua credibilidade perante outros parceiros internacionais e a opinião pública.
  • Diplomacia pós-verdade: A situação demonstra o desafio de negociar com um líder que opera com base em narrativas e espetáculo, muitas vezes à margem dos protocolos tradicionais.

Estratégias essenciais para navegar no campo minado

Embaixadas e líderes estrangeiros preparam-se intensamente para esses encontros. A abordagem precisa ser uma combinação de defesa firme e diplomacia calculada.

  • Bajulação calculada vs. Subserviência: O conselho comum é buscar afinidades e elogiar Trump, mas com cautela para não passar uma imagem de submissão.
  • Defesa diplomática com firmeza: É crucial o preparo para planejar respostas para rebater acusações de forma firme, mas sem escalar publicamente o conflito. O sucesso de outros líderes reside na resposta diplomática e assertiva a provocações.
  • Os trunfos do Brasil: O país possui ativos valiosos, como minerais críticos e o mercado de big techs, que podem ser usados como moeda de troca. No entanto, a questão política envolvendo o julgamento de Bolsonaro é o "calcanhar de Aquiles" inegociável.

Risco elevado, retorno incerto

O encontro Lula-Trump é um evento de altíssimo risco e potencial retorno incerto. Se, por um lado, uma conversa bem-sucedida poderia aliviar tensões e destravar negociações, o histórico de Trump de usar o Salão Oval para humilhações públicas representa uma ameaça real e iminente. A volatilidade do americano, somada às pressões políticas internas do Brasil e a influência de figuras alinhadas a Bolsonaro em Washington, cria um cenário onde Lula pode enfrentar hostilidade similar à dirigida à Ucrânia e à África do Sul. A decisão final não é logística, mas uma delicada manobra estratégica que exige preparação meticulosa para que o presidente brasileiro não caia em uma emboscada político-diplomática.

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