O fator Michelle: "Falem por mim" - Exposição de racha com os filhos de Bolsonaro e ascensão do bolsonarismo feminino
O artigo detalha a crise política gerada pela atuação da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro no Ceará, onde ela desafiou abertamente a direção do seu partido, o Partido Liberal (PL), e a linha de negociação dos filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro. O episódio expôs um racha interno e levantou questionamentos sobre o futuro político da ex-primeira-dama.
A intervenção em Fortaleza e o racha no PL
Michelle Bolsonaro viajou a Fortaleza com um objetivo claro: Impedir a aliança entre o PL e o ex-governador Ciro Gomes (PSDB) para a disputa ao governo do Ceará.
- Ataque direto à liderança: A ex-primeira-dama surpreendeu ao criticar publicamente Valdemar da Costa Neto (presidente nacional do PL) e André Fernandes (presidente estadual do PL/CE) por apoiarem a negociação com Ciro Gomes.
- Exaltação da própria liderança: Em meio a críticas a Ciro por ataques anteriores a seu marido, Michelle exaltou sua autonomia como presidente do PL Mulher, um movimento que já gerou 51 mil novas filiações (aumento de 15% desde março de 2023).
- O apoio a Girão: Ela endossou o lançamento da pré-candidatura do senador Eduardo Girão (Novo), seu aliado na defesa de pautas conservadoras, como a oposição ao aborto.
- Constrangimento a Fernandes: A ex-primeira-dama pressionou publicamente André Fernandes, uma jovem liderança e "máquina de votos" no Ceará, a se alinhar a Girão, exigindo que ele participasse de uma foto de apoio.
A reação dos filhos de Bolsonaro e a crise controlada
O discurso de Michelle em Fortaleza gerou críticas imediatas dos filhos do ex-presidente, que alegaram que ela havia agido contra o aval dado por Jair Bolsonaro às negociações de André Fernandes.
- Críticas de Flávio Bolsonaro: O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) classificou a atitude de Michelle como "autoritária e constrangedora", afirmando que ela "atropelou o próprio presidente Bolsonaro."
- Reunião de conciliação: Após a repercussão negativa, Flávio e Michelle trocaram pedidos de desculpas, e uma reunião com Valdemar Costa Neto e André Fernandes foi marcada para "tomar as decisões em conjunto."
- Suspensão da aliança: Como resultado da crise, a possível aliança com Ciro Gomes foi suspensa.
- Ato de união: Michelle publicou fotos da reunião em suas redes sociais, defendendo a "conversa sincera e união."
O futuro político de Michelle: Presidenciável ou Senadora?
O episódio do Ceará intensificou o debate sobre o papel de Michelle Bolsonaro no cenário político nacional, especialmente com a inelegibilidade de seu marido.
- Dúvidas sobre 2026: Integrantes críticos do PL avaliam que o episódio implodiu a possibilidade de Michelle compor uma chapa presidencial em 2026, possivelmente como vice de Tarcísio de Freitas (Republicanos). Segundo fontes, ela teria sido "redimensionada ao DF."
- Impulso da base: No evento de Girão, a ex-primeira-dama foi saudada como "presidenciável" por figuras como Deltan Dallagnol (Novo), gerando forte apoio da plateia.
- Desempenho em pesquisas: Uma pesquisa AtlasIntel/Bloomberg a coloca em empate técnico com o Presidente Lula em um cenário de segundo turno (Lula 49% x Michelle 47%).
- Alternativa no DF: A possibilidade mais citada nos bastidores é a disputa pelo Senado no Distrito Federal, onde pesquisas indicam uma vitória fácil para ela.
O poder em ascensão de Michelle e a disputa pelo Senado
O cientista político Creomar de Souza destaca que o PL terá dificuldade em "enquadrar" Michelle, que construiu um forte grupo político no campo conservador, especialmente entre o eleitorado feminino e religioso.
- Protagonismo no pós-prisão: Michelle assumiu um protagonismo inédito nas articulações para 2026, incomodando filhos e lideranças do PL, e concentrando foco na disputa por vagas no Senado.
- Prioridade no Senado: A eleição para o Senado, que terá duas vagas em disputa por estado em 2026, é vista como crucial pelo bolsonarismo, pois Senadores têm o poder de cassar ministros do STF.
Conflitos em diversos estados:
- Santa Catarina (SC): Michelle apoia a deputada Carolina de Toni (PL), contrariando a intenção de Carlos Bolsonaro (PL-RJ) de disputar a vaga por esse estado, alinhando-se a um plano de aliança da cúpula do PL.
- Distrito Federal (DF): Michelle apoia a deputada Bia Kicis (PL) para o Senado, enquanto ela mesma é cotada para outra vaga no DF, possivelmente em dobradinha com Ibaneis Rocha (MDB) e Celina Leão (PP).
- Ceará (CE): A ex-primeira-dama apoia a vereadora Priscila Costa (PL) para o Senado, contra o plano de André Fernandes de lançar seu pai, Alcides Fernandes (PL).
- São Paulo (SP): Michelle apoia a deputada Rosana Valle (PL-SP), presidente do PL Mulher no estado.
A intervenção de Michelle Bolsonaro no Ceará é mais do que um conflito regional; é a cristalização do racha de poder no bolsonarismo. Ao desafiar publicamente o comando do PL e a articulação dos filhos do ex-presidente, Michelle se consolida como uma força política autônoma, capaz de redefinir as estratégias eleitorais da direita para 2026. A crise expôs a dificuldade do PL em "enquadrar" sua nova líder, que agora paira entre a ascensão a um posto presidencial e o domínio do influente eleitorado conservador no Senado.
