Ser perfeccionista é bom ou ruim? Quando o medo de errar se torna um problema de saúde mental
O perfeccionismo costuma ter uma excelente reputação. Em entrevistas de emprego, é frequentemente usado como uma "autovalorização disfarçada" ao responder sobre fraquezas. Para muitos, é sinônimo de excelência e trabalho incansável.
No entanto, quando as expectativas se tornam implacáveis, elas podem sabotar o próprio progresso. A seguir, exploramos os dois lados dessa moeda e como encontrar o equilíbrio.
A ilusão do controle e o medo de falhar
Embora pareça uma busca por qualidade, o perfeccionismo muitas vezes mascara inseguranças profundas.
- A sensação constante de "quase" falha: Aswan, de 25 anos, descreve o perfeccionismo como uma ilusão que ela tenta alcançar, vivendo com a sensação permanente de que está prestes a ser demitida ou se decepcionar, mesmo sabendo racionalmente que pode cometer erros.
- Baixa autoestima: Segundo a psicóloga da saúde Sula Windgassen, o perfeccionismo anda de mãos dadas com a baixa autoestima. O medo de falhar é o motor principal.
- A armadilha da procrastinação: Ironicamente, o medo de errar pode paralisar. Aswan cita seu teste de direção: após falhar por poucos pontos devido ao nervosismo de querer passar de primeira, ela nunca mais tentou refazê-lo, um bloqueio que já dura quase quatro anos.
Origens e consequências reais
O perfeccionismo não é um diagnóstico clínico oficial, mas seus efeitos na saúde são tangíveis.
- Sintomas físicos e mentais: O comportamento pode provocar ansiedade severa, cansaço crônico e até queda na imunidade devido ao estresse.
- Raízes do comportamento: Pode estar ligado à personalidade, mas é fortemente influenciado por experiências na infância, pressões escolares e expectativas parentais sobre o que é considerado "bom o suficiente".
Existe um perfeccionismo saudável?
Nem todo esforço por excelência é prejudicial. Especialistas diferenciam o perfeccionismo tóxico da "busca perfeccionista" (perfectionistic striving).
- Metas flexíveis: O lado positivo envolve estabelecer metas ambiciosas, mas mantendo a capacidade de ajustá-las conforme as circunstâncias (como um atleta que reduz o treino ao se lesionar).
- A lei dos rendimentos decrescentes: Um estudo publicado em julho de 2025 pela British Psychological Society alerta que metas excessivamente altas levam a longas jornadas de trabalho com ganhos mínimos de desempenho real.
Como quebrar o ciclo
É possível reverter esse padrão comportamental. O segredo está em mudar a forma como se encara o erro e o resultado final.
- O "experimento comportamental": A psicóloga Sula Windgassen sugere testar suas previsões catastróficas. Questione-se: "O que acontece se não for perfeito?". Anote a previsão e teste na prática. Muitas vezes, o resultado "imperfeito" traz benefícios, como dormir mais cedo e sentir-se mais descansado.
- Aceitação do "suficiente": Dayna, 26 anos, define-se como "ex-perfeccionista". Após sofrer com estresse crônico, ela utilizou diários e leitura para entender seus gatilhos.
- Enfrentando o desconforto: Lidar com a voz crítica interna é desconfortável, mas necessário. Hoje, Dayna afirma que dar o seu melhor e aceitar o resultado traz paz, em vez de esgotamento.
O perfeccionismo é, portanto, um fenômeno dual. Em sua forma rígida e implacável, é uma fonte de sofrimento, paralisia e esgotamento. No entanto, quando canalizado como uma "busca perfeccionista" flexível, pode ser um motor para a excelência sem custos devastadores para a saúde mental. A Jornada de Aswan e Dayna mostra que a verdadeira conquista não reside em atingir um padrão inatingível de perfeição, mas em encontrar um ponto de equilíbrio onde se pode ambicionar alto sem sacrificar o próprio bem-estar. A Meta deve ser trocar a angústia da imperfeição pela paz de saber que o "bom o suficiente" é, muitas vezes, mais do que excelente.
