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sábado, 13 de dezembro de 2025 às 11:16 GMT+0

Cuidado com a confusão entre o "feminismo x femismo": A busca pela igualdade para frear o sexismo estrutural que sabota a sociedade

O sexismo estrutural é mais do que injustiça social: é um sistema de estresse crônico que impõe um custo físico e mental devastador. Ele se manifesta desde o assédio sutil até a disparidade médica, deixando "cicatrizes" biológicas no cérebro das mulheres e afetando sua resiliência emocional. Reconhecer o machismo como um fator de risco à saúde pública é urgente para desmantelar estas estruturas que drenam o bem-estar e a segurança de toda a sociedade.

O preço biológico do sexismo: Uma "cicatriz" no cérebro

Pesquisas recentes revelam que a desigualdade de gênero pode alterar fisicamente o cérebro das mulheres.

  • Impacto na estrutura cerebral: Um estudo de grande escala, analisando milhares de imagens cerebrais, mostrou que mulheres que vivem em países com maior desigualdade de gênero tendem a ter uma menor espessura cortical em regiões do cérebro.
  • Áreas afetadas: Essas regiões estão associadas ao controle emocional, à resiliência e a distúrbios ligados ao estresse, como depressão e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
  • Plasticidade e estresse crônico: O psiquiatra Nicolas Crossley descreve esse efeito como uma "cicatriz no cérebro". Ele explica que o estresse crônico resultante de viver em uma sociedade desvalorizadora inibe a capacidade natural do cérebro de se adaptar (plasticidade), um processo que normalmente permite ao órgão se ajustar a novas experiências e aprendizados.

O sexismo sutil do dia a dia e o desgaste da mente

O sexismo não se manifesta apenas em atos flagrantes de violência. As formas sutis e diárias causam um desgaste constante.

  • Discriminação sutil: Atos como paternalismo, menosprezo e o chamado sexismo benevolente (elogios baseados em estereótipos de gênero, como ser "naturalmente mais gentil") estão ligados à noção de que as mulheres são subordinadas.
  • Prejuízo à saúde mental: Um estudo britânico demonstrou que mulheres que relataram ter sofrido discriminação sexual tiveram uma piora na saúde mental quatro anos depois. Elas apresentaram três vezes mais probabilidade de relatar distúrbios psicológicos e menor satisfação com a vida.
  • Efeitos duradouros: Outras pesquisas confirmaram resultados similares em mulheres mais velhas (acima de 52 anos), mostrando que a discriminação de gênero leva a um declínio da saúde mental, com maior sensação de solidão e queda na qualidade de vida ao longo de anos.

O sexismo estrutural: Uma desigualdade sistêmica

O conceito de sexismo estrutural abrange a desigualdade de gênero sistemática em poder e recursos, que está incorporada nas instituições sociais.

  • Desequilíbrio de poder: A socióloga Patricia Homan define isso como as formas de desequilíbrio de poder, status e recursos entre homens e mulheres.
  • Restrição de recursos: O sexismo estrutural restringe o acesso das mulheres a recursos essenciais para o bem-estar, como a autonomia e a remuneração justa, além de aumentar a exposição a experiências prejudiciais (como violência e estresse crônico).
  • Disparidade no cuidado médico: Essa desigualdade se manifesta até mesmo na medicina, onde as preocupações com a saúde física das mulheres são frequentemente tratadas com menor seriedade. Estudos mostram que as mulheres têm menor probabilidade de receber analgésicos adequados, mesmo com os mesmos sintomas de dor que os homens.

Benefícios da igualdade para todos

Embora o machismo prejudique primariamente as mulheres, a igualdade de gênero beneficia toda a sociedade.

  • Melhoria da saúde feminina: A pesquisa de Crossley aponta que promover a igualdade de gênero melhora a saúde das mulheres e reduz custos para a sociedade.
  • Prejuízos para os homens: O sexismo estrutural também alimenta normas de masculinidade prejudiciais (dominação, aversão à busca de ajuda médica, violência), que estão ligadas a problemas de saúde mental nos homens. A internalização dessas normas rígidas pode ser duradoura e danosa.
  • O ciclo do assédio: A busca por poder e status, muitas vezes esperada dos homens, pode aumentar diretamente o assédio sexual, demonstrando que o sistema prejudica tanto quem está no topo quanto quem está na base.
  • Investimento social: Mulheres em posições de poder tendem a investir mais em assistência médica, educação e programas de assistência social, o que melhora a saúde e o bem-estar da população em geral.

Caminhos para a mudança e a "masculinidade cuidadosa"

Para desmantelar o sexismo estrutural, é preciso agir em níveis pessoal e político.

  • Educação precoce: É vital conversar com a próxima geração, desde cedo, sobre comportamento adequado e a consciência dos estereótipos de gênero.
  • Políticas públicas: Decisões políticas, como oferecer licença-paternidade remunerada para todos os trabalhadores (a política de "use ou perca" dos países nórdicos é um exemplo), ajudam a valorizar o cuidado e a fortalecer a participação da mulher no mercado de trabalho.
  • Evolução da masculinidade: O aumento da responsabilidade masculina no cuidado doméstico pode levar à evolução do conceito de masculinidade, gerando uma "masculinidade cuidadosa" que inclui o apoio e o afeto.
  • Conscientização e apoio: Falar abertamente sobre as consequências do sexismo pode ser benéfico para a saúde mental e gerar maior apoio.

"A luta contra o sexismo estrutural que causa danos cerebrais e sabota a saúde de toda a sociedade é o cerne do feminismo, um movimento que busca igualdade, jamais superioridade. É vital não confundir essa busca justa com 'femismo', que, assim como o machismo, almeja a dominação e perpetua um ciclo tóxico e brutal de guerra entre gêneros. Nossa missão é clara: desmantelar o sistema que nos adoece e garantir que a igualdade seja o único padrão aceitável."

O machismo, manifestado como sexismo estrutural, transcende atos individuais de discriminação; ele é um sistema enraizado que impõe um desequilíbrio de poder, status e recursos, gerando um ambiente de estresse crônico que é inerentemente prejudicial à saúde pública. Ao restringir o acesso das mulheres à autonomia, à remuneração justa e ao tratamento médico equitativo, e ao mesmo tempo alimentar normas de masculinidade tóxica que prejudicam os próprios homens (encorajando violência e evitando a busca por ajuda), o sexismo não apenas desgasta a saúde mental e física das mulheres, mas sabota o bem-estar de toda a sociedade, limitando investimentos essenciais em educação e assistência social. A luta pela igualdade de gênero é, portanto, uma medida crucial de saúde social, visando desmantelar um sistema que prejudica a todos.

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