O fenômeno 'Jeca, mas é joia': Jatos, Porsches e o boom imobiliário da nova elite em Goiás
Goiânia está redefinindo o conceito de riqueza no Brasil, emergindo como o principal polo de consumo e serviços de luxo do Centro-Oeste. Longe de ser apenas uma parada, a capital de Goiás atrai a atenção de grifes internacionais e serviços de altíssimo padrão, impulsionada pela força do agronegócio regional.
O foco da riqueza: Marcas e mercados de alto padrão
A ascensão econômica da região, especialmente do agronegócio, direcionou o olhar de marcas de luxo que antes se concentravam em São Paulo e Rio de Janeiro:
- Grifes internacionais chegam à cidade: Lojas como Gucci e Louis Vuitton já estão presentes. Em 2024, a Chanel inaugurou sua maior boutique no Brasil no Shopping Flamboyant, um símbolo máximo do consumo de luxo local.
- Serviços exclusivos em alta: Há uma crescente demanda por serviços personalizados, como o de personal stylist e consultorias de luxo, impulsionada em parte pela maior visibilidade e pressão por imagem nas redes sociais.
- Comodidade e segurança: Profissionais do setor destacam que a sensação de maior segurança em Goiânia (com uma das menores taxas de mortes violentas intencionais entre as capitais) incentiva a exibição e o uso de itens de luxo, algo que gera receio em outras metrópoles brasileiras.
O estilo da nova elite: 'Jeca, mas é joia'
A cultura da nova riqueza goiana é marcada pela fusão entre a simplicidade rural e o consumo de ostentação:
- A estética "greco-goiana": Um padrão arquitetônico local, muitas vezes satirizado nas redes, que mescla elementos neoclássicos, como colunas e frontões, com portas de proporções exageradas.
- A mistura de culturas: O estilo musical da região celebra o sertanejo e o country americano. Nomes como a cantora Ana Castela valorizam a identidade do agro, a bota suja e o trabalho duro ao lado da ostentação de carros e equipamentos agrícolas de alto valor.
- Reality show em evidência: O programa "Poderosas do Cerrado" (Globoplay/GNT) documenta a vida de luxo dessa nova elite, mostrando a convivência entre herdeiras do agronegócio, influenciadoras e empresárias de eventos de luxo. A expressão frequente "nóis é jeca, mas é joia" resume essa dualidade entre as raízes rurais e a sofisticação urbana.
Luxo sobre rodas e no céu
O poder aquisitivo dessa elite transforma o mercado de transportes:
- Clubes de carros esportivos: Enquanto a Hilux e a Dodge Ram dominam o interior, na capital, o desejo se volta para carros esportivos de alto desempenho. Marcas como Porsche e Ferrari são referências. Concessionárias locais chegam a negociar veículos na faixa de milhões de reais, como um Lamborghini Gallardo e um Dodge Viper.
- Riqueza no ar: O Centro-Oeste abriga 27% dos jatos do país. Goiás impulsiona o aumento na busca por serviços de aviação executiva e táxi aéreo. Produtores e empresários fretam jatos para conciliar negócios e lazer, com voos que podem custar cerca de
R$ 1 milhãopara destinos internacionais como Paris e Lisboa.
O boom imobiliário de luxo
Goiânia se consolidou como um dos maiores mercados imobiliários do país, aproveitando a forte economia regional e o crescimento populacional:
- Terceiro maior mercado: A capital de Goiás já é o terceiro maior mercado imobiliário do Brasil, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro, com um número recorde de lançamentos em 2023.
- Empreendimentos exclusivos: O mercado de alto padrão está aquecido. O Epic City Home, um arranha-céu de luxo com apartamentos de 330m² a 880 m², tem unidades avaliadas entre
R$ 5 milhões e R$ 13 milhões. - Fatores de crescimento: A combinação de um PIB regional forte e a maior taxa de crescimento populacional do país (com o eixo Brasília-Goiânia em expansão) atrai mais pessoas e capital. Apesar do aquecimento, Goiânia ainda possui um dos metros quadrados mais acessíveis entre as capitais, sugerindo um alto potencial de valorização.
A ascensão de Goiânia como capital do "agroluxo" é um fenômeno geoeconômico de alto impacto, sinalizando uma reorientação do mercado de luxo e dos serviços de alto padrão no Brasil, impulsionada diretamente pela pujança do agronegócio do Centro-Oeste. A cidade transformou-se no laboratório urbano onde a riqueza do campo se materializa de forma sofisticada, atraindo grifes internacionais, jatos executivos e o mercado imobiliário de luxo, consolidando-se como o terceiro maior do país. Essa convergência econômica cria um poderoso retrato do Brasil contemporâneo, no qual o dinamismo regional da produção primária define códigos de consumo e uma nova estética urbana, desafiando o eixo tradicional Rio-São Paulo e evidenciando a formação de uma nova e influente elite econômica.
